José Ruy P. de Castro - Música Gospel com Novos Ares: Será?

Não esconderei: o título desse artigo revela minha intenção de debater o assunto abordado por Maurício Soares em seu artigo para a Revista Comunhão na edição de fevereiro[1]. Não quero parecer pretensioso ao discutir o assunto trazendo uma abordagem à parte daquela escrita por Maurício, que é diretor executivo da Sony Music; quero trazer ao debate considerações pertinentes para vermos que nem tudo é maravilha e a maioria das coisas que se criam na música gospel não são “ricas e belas”, principalmente naquilo que se refere a “mensagens e letras”. O que o leitor verá nesse artigo é a visão crítica de um artista independente um tanto antitético (de antítese) em relação ao que é vigente; e o que é vigente, aliás, sem sombra de dúvidas, se encontra personificado num executivo de uma grande gravadora e que provavelmente pensa como ela.

Não é de tudo discordante a minha opinião daquilo que escreveu Maurício; creio realmente que o mercado gospel vivencia um momento de profissionalização e de quebra de fronteiras naquilo que tange à aceitação e execução na grande mídia das músicas gospel. Aliás, comento sobre isso também em meu livro intitulado “Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico”, pela Oxigênio Books em parceria com a Arte Editorial. Quero, entretanto, questionar ou até mesmo “colocar os pingos nos ‘i’s” sobre o que seriam esses “novos ares” mencionados por Maurício. A meu ver, a análise de Maurício é puramente mercadológica e desconsidera o conteúdo lastimável das músicas gospel modernas.

A música gospel está profundamente ligada àquilo que é feito nas igrejas protestantes e/ou evangélicas. Modismos, discursos e jargões estão presentes nas canções tanto quanto nas nossas igrejas. Por exemplo, nossas canções são triunfalistas (seguindo a concepção da fé no bom Deus, princípio pentecostal tão amplamente praticado, cujo mito é “Deus me dará vitória”, esperando-se resultados materiais), nossas canções são vingativas (pois “quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na bênção vão (sic) se arrepender”, segundo canção de Damares), nossas canções são antropocêntricas (direcionadas ao homem e se esquecendo de proclamar princípios universais de Deus, como Sua dignidade, Sua honradez e Sua glória), nossas canções são contextuais (canta-se sobre superação de momentos difíceis da vida, mas se esquece de que ser um verdadeiro cristão sempre perpassará contextos, permanecendo um princípio perene para toda a vida). Como todas essas canções são amplamente aceitas pelos evangélicos, protestantes e simpatizantes da música gospel, são essas que garantirão vendas altas e satisfarão a ânsia de lucros das grandes gravadoras. O maior prejudicado em tudo é o evangelho sadio, pois essas canções, com as características já citadas, apresentam meias verdades. Por exemplo, com uma canção triunfalista se torna inexplicável o fato de que cristãos foram comidos por leões no Coliseu; com uma canção vingativa é impossível caminhar a segunda milha com quem lhe obriga a caminhar uma; com canções antropocêntricas a simples e pura exaltação de atributos divinos não causam a comoção esperada; por fim, com canções contextuais se torna impossível alcançar alguém que não possua demasiados problemas contextuais, como os financeiros.

O que quero dizer é que, mesmo com o amplo leque de possibilidades trazido pelas novas gravadoras, o que se projeta é a perpetuação de músicas gospel com meias verdades que, em determinado momento, destoam totalmente da mensagem do evangelho. Afinal, a música gospel deve existir para pregar o evangelho? Se sim, por que não o estamos fazendo? Será que vendemos nossa preciosa mensagem ao capital?

Termino esse artigo de forma inconclusiva, pois a finalidade dele é a reflexão. Apenas insisto em repetir o título. Pensemos juntos: música gospel com novos ares. Será?

Referências
[1] Clique no título para ler: Música Gospel com Novos Ares.
Fonte: Enviado por E-mail.

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